PINHOLE: Cenas Alteradas
Um estudo sobre as alterações de cor e forma em fotografias estenopeicas

Eis o exercício a que me propus realizar neste trabalho, no qual, visando potencializar as possibilidades de recriação visual a partir de cenas do real, recorri ao uso câmeras fotográficas estenopeicas ou, como são mais conhecidas no Brasil, “pinhole”, ou “câmeras do buraco da agulha”.
A escolha em se trabalhar com pinhole deveu-se, em especial, a uma peculiaridade desse tipo de câmera: a falta de visor. No momento da captura da imagem, o fotógrafo, sem ter um visor para olhar, pode, no máximo, idealizar a cena que será fotografada, garantia de muitas surpresas no momento de conferir os resultados.
No exercício da fotografia com pinhole, o fotógrafo, que interfere em seu “aparelho” desde a fase de confecção, tem a oportunidade de “entrar na caixa preta” (FLUSSER, 1985) buscando desvendar seus mistérios e conduzir – ainda que de forma não tão plena como na fotografia convencional – seus resultados. O sujeito/fotógrafo tem a oportunidade de criar, imaginar, construir e desconstruir o equipamento e, por extensão, a imagem. Em outras palavras, o experimentalismo não tem limites aqui.

Entre minhas referências visuais durante a elaboração deste trabalho, destaco a produção do fotógrafo paraense Dirceu Maués, graças a quem ouvi falar pela primeira vez sobre fotografia “pinhole”, em 2006. Motivada por esse artista (e amigo), passei a frequentar os oficinas e exposições organizados pela Associação Fotoativa, em Belém (PA), parceira do Pinhole Day, comemorado mundialmente em abril. Ali, acabei conhecendo a produção local, que é bastante vasta graças à tradição de ensino em pinhole que existe em Belém.

Em maio de 2010, depois de participar, na Fotoativa, de uma oficina de PINLUX (produção de câmeras feitas com caixas de fósforo da marca Fiat Lux e equipadas com filmes de 35mm), retomei o interesse por essa prática. Recorrendo à internet, conheci os trabalhos de dezenas de outros importantes nomes do cenário contemporâneo em pinhole.
Entre os quais, destaco o inglês Justin Quinnell, que usa a própria boca como suporte para sua câmera, conseguindo resultados surpreendentes que foram compiladas no livro Mouthpiece. Destaco ainda o trabalho, tanto prático como teórico, do alemão Jochen Dietrich, autor de várias publicações sobre pinhole que se tornaram referências obrigatórias para quem pesquisa o tema.
No Brasil, destaco ainda nomes como o de Paula Trope (RJ), que mescla arte e crítica social em seus trabalhos com meninos de rua e que expandiu o uso de câmeras sem lentes para o vídeo; o grupo Lata Mágica (RS), que também tem um trabalho bastante consistente com jovens; e o professor Cleber Falieri (MG), outro incansável “militante” do ensino em pinhole no cenário brasileiro.
(Download do texto na íntegra aqui)